Hà o Canario Arlequim Português, e os ""Arlequins""

26/07/2014 18:30

Artigo de Armindo Tavares

 

Melhor que vermos fotos que, às vezes, não mostram como deve ser o porte e a posição e o tamanho de um Canário Arlequim Português, vou através do croqui que integra o Standard do canário em questão escalpelizar e designar em "Nota", ponto por ponto, o que para mim não corresponde a um genuíno Canário Arlequim Português, mas sim aos pretensos "arlequins" que por aí pululam.

Atentemos:

CORPO - Alongado, esguio e harmonioso.

Nota: - Sai dos parâmetros dos pretensos "arlequins" (cruzados de lipocrómico x melânico) que são bem mais cheios e redondos.

PEITO - Ligeira e uniformemente arredondado.

Nota: - Sai dos parametros dos canários pretensos "arlequins", (cruzados de melânico x lipocrómo) cujo peito faz lembrar o bojo de uma embarcação.

DORSO - Recto, na mesma linha da cauda.

Nota: - Na maioria dos pretensos "arlequins" o dorso faz uma ligeira curva.

ASAS - Longas, bem aderentes ao corpo sem se cruzarem nem descaírem, terminando unidas sobre a raiz da cauda.

Nota: Caracteristicas comum à maior parte das raças de canários.

Cabeça do POUPA - Em forma de tricórnio (2 ângulos atrás e um à frente, este virtual) irradiando de um ponto central do cimo da calota, e descaindo aderente e simetricamente sem cobrir olhos e bico.

Nota: - Este é o ponto fraco do Arlequim, apesar de existirem já exemplares com uma boa poupa é frequente aparecerem aves em que a poupa é em tudo semelhante à do Poupa alemão e do Gloster Corona, defeito a evitar a todo o custo nos Arlequim Poupa.

Cabeça do PAR - Estreita e alongada, mais larga atrás do que à frente.

Nota: - Quer no Poupa quer no Par verifica-se que a cabeça vista de cima tem forma de ferradura que se vai estreitando (alongando) em direcção ao bico. Nos canários comuns começa também da mesma forma mas não estreita (alonga) junto ao bico.

BICO - Forte e proporcionado.

Nota: No Arlequim o bico tem formato de cunha (tipo bico de lapis rombudo/gasto) o que não acontece na grande maioria das outras raças, mesmo em pretensos "arlequins" em que o bico é mais comprido e afiado.

OLHOS - Vivos e bem visivéis.

Nota: Caracteristica comum à grande maioria das raças existentes.

PESCOÇO - Bem delineado e harmonioso, destacando claramente a cabeça do corpo.

Nota: Uma boa forma de se destinguir um Arlequim de um pretenso "arlequim" pois não têm a cabeça tão destacada do pescoçoque é mais grosso, apesar de haver canários que reúnem esta característica.

TAMANHO - 16 cm.

Nota: Mais uma forma de distinção do Arlequim que sobressai sobre os pretensos "arlequins" com 13 e 14 cm.

COR - Multicolor e equilibradamente variegada com factor vermelho. Coloração artificial obrigatória.

Nota: Uma caracteristica em que o Canário Arlequim Português marca a diferença ante todas as outras raças. O canário como o nome indica é arlequim logo tem de ser malhado para poder ser apresentado a concurso.

PLUMAGEM - Lisa, compacta, sedosa, brilhante e bem aderente ao corpo.

Nota: - Característica comum a uma grande parte das raças de canários existentes.

POSIÇÃO/MOVIMENTO - Posição erguida e altiva, fazendo um ângulo de 55º relativamente à forma como se coloca no poleiro, com o corpo bem elevado e cabeça bem levantada.

Nota: - Nos pretensos "arlequins" não existe esta posição pois ficam "deitados" relativamente ao poleiro acompanhando a cabeça essa mesma posição.

PATAS - Fortes, longas, ligeiramente flectidas, preferencialmente variegadas, com coxas bem visivéis.

Nota: Os pretensos "arlequins" raramente têm as patas longas, flectidas e as coxas à mostra ou então têm as coxas demasiadamente à mostra.

CAUDA - Longa, estreita e ligeiramente bifurcada na extremidade, preferencialmente variegada.

Nota: Tirando o facto da preferência do variegado na cauda esta é uma caracteristica comum a quase todas as raças de canários.

CONDIÇÃO GERAL - Saúde e higiene perfeitas. Vivacidade e boa adaptação à gaiola de exposição.

Nota: Caractristicas que se exigem a todas as aves apresentadas a concurso.

 

 

Um artigo de Armindo Tavares

 

Introdução

Criador amador de canários, desde  1978, comecei por criar canários de cor  mas rapidamente me apaixonei pelos Glosters e pelos Yorkshires (é verdade os extremos tocam-se).

Com o tempo o Gloster foi o meu canário preferido, apesar de ter obtido prémios em ambas as raças.

Com o aparecimento do Canário Arlequim Português, olhei desconfiado para esta ave que se pretendia uma raça.

À boa maneira portuguesa em  breve comecei a fazer parte dos “bota-abaixo”, apesar de a não ter analisado. Mas a Internet por vezes faz-nos repensar a nossa postura sobre determinada matéria e isso aconteceu comigo.

Andando um belo dia a navegar dei com o Standard do Canário Arlequim Português e isso foi o princípio de uma pesquisa e visita por vários criadores nacionais que duraria cerca de 18 meses.

Começar com Prémios

Adquiridos alguns exemplares do Canário Arlequim Português em 2007, logo no ano seguinte tive a felicidade de obter os três primeiros lugares da exposição temática realizada na Figueira da Foz, em Arlequins Par.

Continuando a visitar criadores e a beber as informações obtidas optei por me dedicar a 100% à criação do Canário Arlequim Português e pretendo com este pequeno trabalho  os que sempre acreditaram possível a criação desta bela ave, passando um pouco pelo passado, saboreando o presente e ansiando pelo futuro, onde em Janeiro de 2010 na cidade de Matosinhos, em Portugal, espero ver o Canário Arlequim Português obter o terceiro e definitivo Reconhecimento Internacional como uma raça genuinamente portuguesa

O Sonhador

Há cerca de 25 anos um homem sonhou (Prof. Dr. Armando Moreno) com uma raça de canários que traduzisse na sua essência o povo português; um povo multifacetado, pluriracial, alegre, bem disposto e de bem com a vida.

Para isso contribuiu o seu  gosto pelo vulgar canário rústico e variegado, oriundo de cruzamentos  de serinus serinus sem qualquer critério selectivo.

O início

Um grupo de criadores abraçou a iniciativa do  mentor da ideia e, paulatinamente, com rigor e critério foram ao longo dos anos “esculpindo” o canário idealizado: um canário multicolorido, alegre  e elegante que, em função do seu variegado, viria ser consensualmente baptizado Canário Arlequim Português

O Standard

Houve um primeiro Standard que obrigava a que o canário fosse portador do factor mosaico mas que, por motivos alheios aos criadores, e por colisão com outras raças teve de ser posteriormente alterado.

Reconhecido em Porugal

O Standard, inicial, foi reconhecido em Portugal e o canário apresentado pela primeira vez num certame mundial em 2001 aquando do campeonato realizado em S. João da Madeira.

Assim surgiu o protótipo do que, depois de aperfeiçoado, chegaria aos dias de hoje com a legítima pretensão de ser o primeiro canário de raça

O persistente

Obtido o reconhecimento, como nova raça, em Portugal, impunha-se a obtenção do mesmo a nível internacional. Após alguns desaires em alguns mundiais e quando muitos se questionavam sobre a viabilidade da raça, que precisava de 3 reconhecimentos consecutivos em campeonatos mundiais, um homem nunca desistiu, Mário Costa, essa persistência fez com que entre os criadores passasse a ser conhecido pelo Homem dos Arlequins dado o feroz empenho na defesa do Canário Arlequim Português

As bases foram estabelecidas

Apesar de alguma travessia do deserto pelo descrédito dos criadores portugueses, um homem, Mário Costa, emergiu para que o sonho fosse uma realidade. Para isso, junto, com um restrito grupo de criadores ajudou a fundar o Clube do Canário Arlequim Português logo após o Prof. Dr. Armando Moreno ter registado o canário na Confederação Ornitológica Mundial, evitando deste modo que alguns países com apetência para a criação de novas raças chamassem mais tarde a si a criação do Arlequim Português, quiçá com outro nome.

A raça é Poruguesa

Armando Moreno, ao proceder ao registo do Canário Arlequim Português terá, eventualmente, dado um passo de gigante na salvaguarda da raça pois é conhecido o “apetite” de alguns países para o reconhecimento de novas raças e é opinião generalizada no meio ornitológico português que se fosse outro país como a Bélgica, Espanha, França ou Itália a apresentar o Arlequim Português este já teria obtido o reconhecimento.

Prova deste pensamento generalizado é o facto de haver já criadores a criar o Arlequim, não só naqueles países mas também no Brasil, Inglaterra e Suíça.

Entre o sonho e a realidade

Finalmente e para gáudio dos  portugueses, em Janeiro de 2008 em Hasselt/Bélgica, o Canário Arlequim Português, obtinha o primeiro reconhecimento internacional como novel raça de canários. A média dos exemplares julgados pelos cinco Juízes Internacionais atingira (pelo menos 87 em 100 pontos possíveis) a pontuação necessária para o primeiro reconhecimento internacional como raça.

Já só faltavam mais dois difíceis reconhecimentos. Se tudo corresse de feição o definitivo seria no Campeonato do Mundo que se realizaria em Matosinhos/Portugal, o que seria como que a cereja no topo do bolo.

A ansiedade

Campeonato Mundial de 2009, Piacenza/Itália, a Internet é o veículo utilizado para aplacar a ansiedade dos que ficaram por Portugal, saberem se os seus canários tiveram boas classificações.

Jorge Quintas, Presidente OMJ de Juízes faz a apresentação do Canário Arlequim Português.

Nos fóruns de canaricultura começam a aparecer as primeiras boas noticias, a representação portuguesa obteve cerca de 50 medalhas sendo mais de 60% de ouro. Só faltavam as noticias do Canário Arlequim Português.

A boa nova

Finalmente a noticia surgiu, qual bomba carnavalesca de confetis. Um membro da Federação Ornitológica Nacional Portuguesa, Carlos Ramôa, anunciava via fórum/internet que Portugal além das medalhas tinha obtido o 2.º reconhecimento internacional do Canário Arlequim Português, como raça.

Como cogumelos

Como fungos começaram repentinamente a aparecer “criadores/fazedores” da até aí desprezada raça. Uma raça que demorou cerca de 28 anos a desenvolver-se começou rapidamente a proliferar como os ratos.

O problema é que não eram Arlequins os canários que apareciam e estes “criadores/fazedores” ao fazerem “explodir” canários variegados e a aparecer com esses mesmos canários em exposições como se de Canários Arlequins Português se tratem, não contribuem para a credibilidade da nova raça deitando por terra o trabalho sério dos verdadeiros criadores.

Há uma nova raça de canários em Portugal

Espero e desejo que o título epigrafado seja a frase mais proferida em Janeiro de 2010 no mundo ornitológico pois significará, finalmente, que o Canário Arlequim Português passou do sonho do Prof. Dr. Armando Moreno, à realidade concretizada pelo Mário Costa, com a colaboração dos verdadeiros criadores do Canário Arlequim Português.

Entre os melhores

Como Português sinto-me honrado com os feitos dos criadores portugueses além-fronteiras, em todas as raças de aves em que foram Campeões, gravando o nome deles e o de Portugal na história da ornitologia mundial, não os mencionando individualmente pois todos são importantes e poder-me-ia, quase de certeza, escapar algum. Importantes são também os que participando não conseguem títulos mas o seu trabalho é tão importante para a ornitologia como o dos que conseguem títulos.

Para todos o meu orgulhoso obrigado!

Alguns dos que acreditaram

Ficarei duplamente orgulhoso se num futuro muito próximo existir, a nível mundial, uma raça de canários homologada conhecida como a raça do canário português, de seu nome Arlequim Português.

Aqui e porque modestamente também dou o meu contributo há que enaltecer homens comoArmando Moreno, Daniel GonçalvesMário CostaJorge ManoPaulo FerreiraDário OliveiraRui Godinho, Orlando BatalhaConde PinhoPaulo MaiaCarlos Franqueira,Rui SilvaAlcides Castro e muitos outros que são uma referência como criadores e fizeram com que aparecessem largas centenas de seguidores/criadores da raça havendo já novos criadores que utilizando  o mesmo rigor selectivo começam já a ser nomes de referência na Criação do Canário Arlequim Português como;  Pedro FreixoRicardo NogueiraJosé CaldeiraRodrigo Barbosa,Nuno SilvaPaulo Martinseu Armindo Tavares e muitos, muitos, outros.

Não posso esquecer nesta panóplia de nomes o de Jorge Quintas, Presidente do Colégio de Juízes, que tem apresentado nos eventos mundiais o nosso canário.

 

Armindo Tavares